Estreia nesta sexta (25) em Londrina, o curta-metragem “Quando o Verde Toca o Azul” dentro da programação do 18º Festival Kinoarte de Cinema, às 21h, no Cineflix do Shopping Aurora, em Londrina, no Paraná. A produção, que conta com equipe e elenco locais, é o segundo filme de Letícia Nascimento como roteirista e diretora, que estreou na direção cinematográfica com o curta “Onde o Coração Canta” (2015), vencedor do prêmio de melhor filme londrinense pelo júri popular no 17º Festival Kinoarte de Cinema, no ano passado.

Com referências que vão desde Lynne Ramsay a Mallick o filme tem uma temática ligada ao emocional humano; Quando o Verde Toca o Azul apresenta a personagem Laura, 34 anos, que tem casa, marido e um bom emprego, e vive em uma rotina engessada. A partir de uma memória traumática, Laura, repentinamente, muda seu comportamento em busca de uma resposta para as questões que rodeiam os seres humanos. Laura é interpretada pela atriz Luciana Caminoto, que divide as cenas com Eduardo Lopes Touché e Edimara Alves, que também participaram do elenco do primeiro filme de Letícia, além de Alan Ferreira, Alessandra Pajolla e Juliana Monteiro.

Sim. O roteiro de Quando o Verde Toca o Azul foi concebido em 2013, como parte do processo criativo do Núcleo de Dramaturgia Audiovisual do SESI/Londrina, do qual fiz parte por três anos. Na época, participei de um pitching com este roteiro e obtive um retorno muito positivo em relação a ele, inclusive com proposta de produtora para produzi-lo. Essa ideia ficou guardada por um tempo e após rodar o primeiro curta, achei que era hora de dar vida a ele e aqui estamos!
No processo eu me desafiei a partir de uma palavra, no caso REPENTINA, para construir o roteiro. Foi uma experiência muito interessante, este é um roteiro que abriu muitas portas pra mim. Para a filmagem mudei algumas coisas, o roteiro sempre muda quando vamos rodar, praticamente ganha vida.
E a preparação do elenco? Foi um processo longo até achar todos os atores?
Nós fizemos a seleção de elenco em março – divulgamos o máximo que conseguimos e testamos um número grande de atores, chegando na escolha da Luciana Caminoto para o papel principal, no Alan Ferreira e Juliana Monteiro para outros dois papeis e convidei dois atores que estavam comigo já no primeiro filme, o Eduardo Lopes Touché e a Edimara Alves, além da Alessandra Pajolla, para fecharem o elenco.
O processo de preparação foi muito extenso, quase exaustivo, mas valeu muito a pena. Eu contei com a ajuda do Marcos Savae, que também é meu assistente de direção para o trabalho de preparação. O Marcos é ator, como eu, mas ele ainda está conectado à interpretação de uma forma que eu não estou mais. Ele é incrível! Elaboramos juntos a forma de trabalho e ele trabalhou os exercícios corporais e de voz com o elenco, criando uma energia muito boa que estava presente no set. Estou muito satisfeita com as atuações, atingimos o que precisávamos neste sentido.
Seu filme tem uma carga visual e emocional fortes (Fala de lembranças, traumas) o que você citaria como influências para esse conceito todo?
Eu parti de uma palavra para construir este roteiro. Eu quis muito ir pra um caminho de acaso-objetivo, então tem muito de momentos específicos de vida real, que foram adaptados pro filme. Para construir junto com a equipe o conceito estético/visual do filme, algumas das referências foram A Árvore da Vida, do Mallick, que é um filme que me encanta por esse poder de expressar muito em pequenos elementos, teve um pouco. Teve também referências de filmes de Lynne Ramsay, que é uma diretora que eu gosto muito, de filmes de Sofia Coppola, Bresson, Cassavetes… No roteiro original, os offs da Laura seguiam uma não-linearidade, que pensando aqui pode ter como referência Virginia Woolf, mas isso eu pensando já em possibilidades adormecidas…rs E também estes offs não foram filmados. No plano musical, tem a música Blue, da Joni Mitchell que permeou parte do processo.
Do ponto de vista da direção, agora com uma equipe maior, quais foram os maiores desafios deste filme? Imagino que o processo tenha sido muito mais complexo do que no primeiro…
Eu achava que os desafios diminuiriam com mais uma experiência, mas cada set é um set, cada história é uma história e por aí vai. Como a grande maioria da equipe anterior estava comigo de novo – os dois que não estavam era por causa de trabalho – foi tranquilo este processo. A diferença é que dessa vez contamos com pessoas com mais experiência, o que é um desafio já, de administrar tudo isso, mas que foi muito enriquecedora. Aprendi muito nesse set, como no outro. Fazer filmes é um trabalho incessante de aprendizado e desapego. o filme foi filmado praticamente inteiro com câmera na mão, tem vários planos sequência e diálogos. Buscamos uma estética mais fluida que acompanhasse essa personagem mesmo. Então é um filme por si só desafiador.
Um dos maiores desafios pra mim foi que dessa vez montei a estrutura do filme sozinha – o processo de montagem mesmo – e só depois de ter feito isso contei com a ajuda do Artur Ianckievicz, que também assina o som, para os retoques finais. Eu queria muito ter essa experiência de ter todo o material ao meu dispôr para trabalhar com calma e tranquilidade e foi um longo processo, super desafiador, mas bem gratificante agora que está chegando a estreia. Todo filme vai ter desafios. Neste contamos com um dia em que choveu, por exemplo, numa cena que eu precisava de sol e nós começamos a tomar decisões, definir ou redefinir conceitos porque as coisas não podem parar. Realizar um trabalho via Promic também é um desafio… Envolve muita coisa, tem muito trabalho e responsabilidade envolvidos e um sentimento de deixar algo realmente pertinente para a nossa cultura local, assim como você tem feito com o Rubro Som. Você me entende nesse sentido!
De alguma forma, acha que o ‘Quando o verde…” pode ajudar pessoas que passam por um momento parecido como o da Laura na trama toda?
Essa lembrança da Laura, você vai ver quando assistir ao filme, é algo que não se confirma como verdadeira, é uma hipótese e como tal age como catalisador de ponto de partida. A personagem, realmente, toma decisões e vai se desligando de uma vida que não estava a satisfazendo. Neste sentido, inclusive em algumas cenas específicas ele pode ser, sim, de grande identificação. Mas não tenho a pretensão de achar que o filme será capaz de ajudar alguém. Eu espero que transmita emoções, quaisquer que forem. Esse já é um objetivo suficiente por enquanto.
Seu primeiro filme teve uma repercussão muito positiva, venceu o prêmio no festival kinoarte… Esse tipo de coisa chegou a ‘pesar’ para você enquanto produzia este segundo? (O lance de manter a qualidade, as expectativas).
Acho que um pouco sim, principalmente pela proximidade das duas produções. Em um ano, rodei dois curtas, algo inimaginável pra mim até 2015 – eu sempre quis, e ainda quero, ser roteirista. A direção veio como um experimento e, de repente, eu já estava indo pra segunda produção. Isso pesa sim, principalmente porque foi um ano de muito trabalho nos dois filmes e de muita alegria também por estar fazendo as coisas com verdade, com seriedade e de uma forma que me deixa orgulhosa ao final dos processos. Gosto de seguir na tranquilidade, ‘lowprofile’ hehe… Mas é assim que consigo levar as coisas adiante. Em termos de expectativas, Onde o Coração Canta me orgulha muito, tenho mesmo um carinho danado por esse filme, pela Thais Vicente, que foi a protagonista, pela equipe toda, mas acredito que Quando o Verde Toca o Azul já se mostre um salto em diversos sentidos, que é o que se espera – adquirindo experiência, conseguimos mais técnica e resultados melhores.
E próximos projetos? Tem já novos roteiros e ideias preparadas para um próximo filme? Você é uma ‘escritora’ que relê muito o que já fez?
Tenho alguns projetos sim, roteiros de gêneros diversos, rs, mas acredito que ficarei um tempo sem dirigir nada – a menos que, de repente, eu me veja filmando o terceiro ano que vem, rs. Isso de dirigir por escolha mesmo. Quero ficar um tempo me dedicando aos roteiros novamente. E, sim, eu amo rever o que fiz. Estou sempre revisitando meus primeiros roteiros e é muito bom descobrir, inclusive, como evoluímos, não na escrita, ou na técnica, mas como seres humanos também.
Ficha Técnica
Elenco: Luciana Caminoto, Eduardo Lopes Touché, Alan Ferreira, Edimara Alves, Alessandra Pajolla e Juliana Monteiro
Roteiro e Direção: Letícia Nascimento
Produção: Bruno Gehring
Direção de Fotografia: Guilherme Gerais
Direção de Arte: Camila Melara Alcantara
Figurino: Thaina Oliveira Gonçalves
Make Up: Evelise Chaiben
Som direto: Artur Ianckievicz
Trilha Sonora: Lucas Dias Baptista
Projeto Gráfico: Glauber Pessusqui
Coloração: Vinícius Leite
Gaffer: Luiz Rossi
Assistentes de Direção: Marcos Savae (Co-preparação de elenco) e João Mussato
Assistentes de Produção: Raquel Sant’Anna e Nabila Haddad
Assistentes de Fotografia: Arthur Ribeiro (Still) e Elder Maxwhite
Assistentes de Arte: Higor Meíja e Natália Tardin
Assistente de Figurino: Layse Moraes
Patrocínio: Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic) via Prefeitura Municipal de Londrina
SERVIÇO
Quando o Verde Toca o Azul
Estreia – 25/11 às 21h no Cineflix do Shopping Aurora
No 18º Festival Kinoarte de Cinema
Estou contando as horas para assistir o filme que tenho certeza será maravilhoso pelo empenho e capacidade das pessoas envolvidas
Ótima matéria, espero ver o filme
Amei o filme, e o gostinho de quero mais ainda permanece!